Irapuan Lima: o Chacrinha do Norte PDF Imprimir E-mail

Ligar a televisão e assistir a um programa de auditório. Essa é uma situação cotidiana na vida de boa parte dos cearenses. Esse tipo de programa é um dos que mais faz sucesso hoje na TV do Ceará. Os temas cotidianos, muitas vezes com forte apelo emocional, ganham a identificação de telespectadores das mais variadas classes sociais. Entre os principais elementos destes programas estão o humor, o show de calouros e o corpo feminino, mostrado de maneira sensual. Esse modelo, porém, não é novo. Como dizia Abelardo Barbosa, o Chacrinha, "na televisão nada se cria, tudo se copia".

A TV Ceará, primeira emissora do Estado, trouxe o modelo do rádio. Ele foi aperfeiçoado ao longo dos anos e, aqui, teve seu auge com os apresentadores Augusto Borges, João Ramos e Irapuan Lima. Este se denominava o 'Chacrinha do Norte', apelido dado por Armando Vasconcelos, que fez com que Irapuan passasse a ser considerado assim desde então.

Irapuan também veio do rádio. Ele passou 26 anos (de 1949 a 1975) na Rádio Iracema apresentando diversos programas: 'O Vesperal do Chacrinha', 'A Garotada se Revela' e o 'Programa Irapuan Lima'. O último teve sua origem no rádio e foi levado para a televisão. Foi nesta que ele alcançou seu maior sucesso e ficou no ar de 1975 a 1992, passando por três emissoras, TV Ceará, Cidade e Manchete.


A irreverência do Programa Irapuan Lima foi um dos fatores que contribuíram para a conquista da audiência.


Irapuan interrompeu suas atividades na televisão por conta de uma cirurgia na vesícula, que evoluiu para uma pancreatite. Depois disso, ele fez apenas aparições em comerciais na TV e faleceu, em 2002, por conta de uma embolia pulmonar. O programa que Irapuan comandava não era muito diferente dos outros da época, com auditório sempre cheio e apresentadores cativantes, tampouco dos de hoje. Sua grande audiência decorria de ele se mostrar como uma pessoa comum, com quem o público se identificava. Ele se mostrava realmente cearense.

Apesar da comparação, não imitava Chacrinha, como afirma Gilmar de Carvalho, professor aposentado do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará (UFC). Para caracterizar Irapuan com uma só palavra, esta seria irreverência.  O bom humor era regra a ser seguida por ele.


Irapuan Lima esbanjando bom humor.

Para Gilmar, Irapuan "era uma presença que se impunha, apesar de não ser bonito, de não ser charmoso, de não ter uma voz agradável (daquelas dos velhos locutores de rádio), de se  vestir de modo cafona". O apresentador tinha preferência por programas ao vivo, chegando a ter quatro horas e meia de duração. Ele não seguia roteiros, tinha apenas um guia que lhe dava muita liberdade para improvisos. Ele mesmo era o produtor do programa, quem criava os quadros e decidia como tudo ia acontecer.

A publicidade foi outro marco importante no programa Irapuan Lima. Ele criava jingles e reclames ('Cadê Cacá', 'Frango do Zezé', 'Macarrão Fortaleza' etc.) para os produtos que ia anunciar. Preferia fazer a divulgação ele mesmo, como disse para a Revista Entrevista, publicação do Curso de Comunicação Social da UFC, em 1998. "Se eu animo um programa, para mim, é melhor angariar o anúncio e fazer a publicidade do que dar para outros", afirmou.

Passaram pelo seu programa ícones da música brasileira de todos os tipos, como Ângela Maria, Bibi Ferreira, Carlos Galhardo, Orlando Silva, Roberto Carlos, Sérgio e Wanderley Cardoso. Danielly Portela, hoje apresentadora de telejornal da TV Verdes Mares, foi jurada e apresentadora mirim do Jornalzinho do Programa Irapuan Lima. Ela diz que o Chacrinha do Norte "despertou no cearense o interesse pela divulgação dos nossos talentos, que no sul do país (onde tudo acontece) não recebiam atenção".

A fama do programa aconteceu também graças às companheiras de palco de Irapuan, as "Irapuetes", que esbanjavam sensualidade. Lionah Dias foi a "Irapuete" que fez mais sucesso, sendo comparada à Xuxa Meneghel, por ter o cabelo loiro, ficando conhecida então como "Xuxa Cearense".


Ao fundo, as Irapuetes. "Aquilo, para os velhos, limpava a vista que era uma maravilha", dizia Irapuan.

Uma característica dos programas de auditório e show de calouros no Ceará é a presença de um animador de palco, como era Irapuan, e a tendência de criar paródias e versões de ícones da televisão brasileira. Na época, Irapuan era comparado ao Chacrinha, Lionah à Xuxa, assim como hoje, veem Ênio Carlos como uma versão de Sílvio Santos.


A platéia era um elemento importante do programa

É inegável a importância do Programa Irapuan Lima para a televisão cearense. Ele chegou a ser considerado um dos maiores comunicadores do Ceará. Seu programa reforçou a identidade cearense por se mostrar como janela para o mundo e por apropriar figuras nacionalmente conhecidas para a realidade do Estado.

Irapuan Lima foi um dos personagens da série "A história da comunicação contada pela TV Cidade". Confira o trecho sobre o apresentador cearense.



Evelyn Onofre
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Mariana Freire
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Música na TV cearense
Programas de auditório cearenses
Na plateia do Ênio Carlos
Nos tempos do programa Ontem, Hoje e Sempre
Os formatos de auditório permanecem

 

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